Saí com Laurinha agora à tarde para tomar umas providências e, na volta para casa, passei pelo armarinho a fim de comprar papel - e armarinho, como se sabe, vende de um tudo e lá minha neta se apaixonou por uma flautinha doce que me obrigou a adquirir. Desse modo, o caminho foi feito à base do som mais suportavelmente desafinado que se possa imaginar. Num trecho da estrada, Laura interrompeu sua tocata para me indagar acerca de certo cadáver observado na rua:
- Vovô, o que é isso?
Respondi-lhe que era um rato morto e a menina exclamou num misto de surpresa e nojo:
- Nossa!
Mas logo se recobrou e manifestou a dúvida:
- Mas ele está com o olho aberto!
Não sei como pôde ela observar esse detalhe, tão rapidamente passamos pelo defunto, mas ri por dentro e aproveitei para fazer uma gracinha:
- É que ele morreu vivo!