sábado, 29 de outubro de 2022

Poema






Ao estender o moletom laranja de Pedro no varal na manhã deste sábado (as roupas deles são lavadas aqui em casa), vi, num dos bolsos, um bolinho de papel e o recolhi. Abrindo-o cuidadosamente para não danificá-lo, observei algumas garatujas escritas nele e assim descobri o poema que deu a Pedrinho o segundo prêmio do concurso promovido pelo colégio onde ele estuda. Há três anos meu neto havia abiscoitado o primeiro lugar. 

O manuscrito, contudo, havia sido escrito a lápis e foi com alguma dificuldade que conseguir interpretar o texto de Pedro, que se revela um poeta bastante inspirado, preocupado com questões filosóficas, ação característica da fase adolescente que ele vive, fazendo-me recordar minha própria experiência. Eis o texto, ao mesmo tempo belo e triste:


Humanos?

Se alguém me perguntar,
Ser humano eu não sou
Sou apenas um ser vivo
Que pensa e suporta dor.

Se alguém me questionar,
Não pertenço à Humanidade
Esse grupo de seres
Sem noção da realidade.

Não importa o quanto perguntem,
Eu me vejo assim
Fora de uma sociedade
Mas 100% dentro de mim.

Volto a fazer um pedido simplório
Para ninguém se esquecer
Por favor, eu imploro
Eu apenas quero viver!

Campanha política



- Vovô, por que mamãe vai votar na candidata Fulana? - quis saber meu neto Ulisses, citando o nome de uma postulante baiana ao Senado Federal enquanto eu o ajudava a lavar as mãos antes de nos sentarmos à mesa para o almoço.
- Porque é uma candidata feminista que tem boas propostas para as mulheres - disse eu e Ulisses quis saber que propostas eram. Não me fiz de rogado e recordei a pauta feminista:
- Igualdade de direitos, respeito à condição feminina e tolerância.
- E o que é tolerância - meu netinho voltou à carga, mas antes que eu completasse minha frase, informando se tratar do respeito às diferenças, o menino escapuliu e fui encontrá-lo sentado em frente ao um prato vazio, esperando que o servisse...

domingo, 23 de outubro de 2022

Nosso poeta



Foi Laurinha quem fez o anúncio, quando chegou da escola, junto com o irmão, naquela quinta-feira:

- Pupu ficou em segundo lugar no concurso de poesia da escola!

Atarefado, não me lembrei nem mesmo de parabenizar meu neto, o querido Pedro Lucas, e fui cuidar do almoço deles, uma vez que Bia e Sal tiveram que sair - Ulisses acompanhou a avó.

Somente quando cheguei em casa, à noite, de volta do trabalho na Casa Espírita, é que Bia me revelou ter pedido a Pedro que recitasse seu poema, havendo gostado bastante do que ouviu, dando razão a Laura que disse ser a poesia de seu irmão muito mais bonita do que a vencedora do certame escolar.

Há três anos, nosso poetinha havia conquistado o primeiro prêmio, que lhe rendeu um vale-compras numa das livrarias da cidade.