segunda-feira, 31 de outubro de 2016

(off) Paciência


Pedro e Laura acabaram de chegar do fim de semana passado com o Papai Alexandre. Vieram alimentados e assim dispensaram a vitamina. E porque Mamãe Sal já planejasse que acordariam cedo amanhã para irem à escola, mandou os dois para o banho. Meus netos adoram passar o tempo sob o chuveiro e cerca de dez minutos depois de se banharem minha filha pediu-lhes pressa:
- Vamos, crianças!
Da sala, só escutamos as vozes da conversa entabulada entre os dois dentro do box e por isso engrosso o coro, referindo-me principalmente à menina, sempre mais loquaz que o irmão:
- Laura, está ouvindo?
E ela grita de lá:
- Espera!
Mamãe Sal não gostou do tom e ralhou com minha neta:
- É assim que fala com seu avô?
Fez-se um breve silêncio mas logo em seguida Laurinha se pronuncia:
- Mas tem outro jeito de dizer "espera!"?
Eu ri.

domingo, 30 de outubro de 2016

(off) Desmame - o terceiro dia


Pois é, fomos dormir ontem com a firme intenção de testar o paladar de Pedro e Laura com um suco com biscoitos - ou pão torrado, como eles gostam. Como a dupla também pernoitou na casa destes avós, julgamos que teríamos facilitada a tarefa, sem contar que poderíamos ter alguma surpresa. Assim quando levantei da cama, às cinco e meia da madrugada, já encontrei os dois despertos, com os olhos grudados na TV. Fui logo cumprimentando-os:
- E então, vamos tomar café?
Mas meus netos são uns safadinhos e nesse momento bradaram numa só voz:
- Queremos vitamina!!!


(off) Desmame

Anteontem nosso caríssimo Pedrinho manifestou um certo entojo em relação à mais que habitual vitamina que sirvo a ele e a Laura há mais de sete anos. Em razão disso, começamos o "desmame" de ambos, passando a fazê-los habituarem-se com um café da manhã mais prosaico. No primeiro dia, foi aquele auê, com os dois apresentando dificuldade para comer o pão quente com manteiga e um pouco de café com leite - ou melhor, leite com café - fazendo Pedro apresentar até mesmo ânsias de vômito. Depois pensei melhor e decidi que hoje eles tomariam não o café, mas um achocolatado, mais ao gosto do paladar infantil, mas principalmente Laurinha implicou com esse menu, servido por Mamãe Sal. Amanhã vamos variar o cardápio matinal fazendo-os tomar um suco de frutas...


quinta-feira, 20 de outubro de 2016

(off) Competências

Não posso evitar me divertir muito com meu neto Pedrinho (agora já não preciso usar o aposto, uma vez que temos Ulisses). Ontem, enquanto fazia seu dever de casa, ele buscou a mãe revelando certa dificuldade com um exercício de matemática, às voltas com a multiplicação. Ofereci-me para ajudá-lo e mostrei-lhe como é fácil multiplicar por três. Ele compreendeu e realizou as contas, mas logo retornou, embatucado com a multiplicação de quatro, recebendo nova explicação. Concluída a tarefa, meu neto vem para perto de mim e, como não se interessa pelo que faço no computador, pega uma revista e passa a folheá-la. Em certo momento, Pedro me interrompe para mostrar um teste psicológico e me inquire:
- Vovô, o que você acha que eu sou!?
Examino o teste e aponto um dos muitos perfis psicológicos à disposição:
- Desorganizado.
Ele contesta:
- Desorganizado? Mas eu sou muito organizado. Por sinal, vou agora mesmo organizar meu quarto!
Ri muito.

(off) Quase lá



Soaria falso dizer que não estamos ansiosos para ouvir as primeiras palavras de Ulisses fora do habitual tatibitate dos bebês. Com seus 16 meses seria de esperar que ele já pronunciasse os vocábulos mais prosaicos, como papai, mamãe e água - com um pouco de "sorte" ouviríamos, talvez, um "vovô", mas fiquemos por aqui. O fato é que as mais recentes impressões resultaram inócuas, porque o menininho não satisfaz nossos anseios. Ainda assim, minha filha Sal, sua "babá", tenta ensinar-lhe alguma coisa mas Ulisses só aprende - ou consente em aprender - apenas gestos, observando vídeos como os da galinha pintadinha. Uma dessas tentativas da Tia Sal foi no sentido de fazer meu netinho falar o próprio nome - vejam a dificuldade! E Ulisses, talvez procurando satisfazer o apelo da tia, sibilou a língua entre os dentes:
- Sssssss!
É muito "s" num nome só...

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

(off) Arte culinária



Num dia em que não tiveram aula nesta semana, Pedro e Laura estacionaram aqui em casa e, para tirá-los um pouco que fosse da frente da TV, Vovó Bia decidiu aceitá-los como auxiliares enquanto ela preparava o almoço. Eles adoraram, principalmente em razão do critério que a avó estabeleceu para o trabalho, o de ser chamada de "chef" durante o processo. Assim, a todo instante ela ouvia:
- Chef, posso fazer isso?
- Está bom assim, chef?
Devo acrescentar que mormente Pedrinho gostou dessa brincadeira muito séria porque meu neto é um entusiasta dos programas de gastronomia (na minha época se chamava arte culinária...) tão em moda na televisão brasileira e mundial. Por isso é que dó depois entendi quando, numa das vezes que o levei ao mercado, ele interessou-se em adquirir um pacote de pó para bolos, com o que não concordei, perguntando para que ele queria aquilo e ouvi a resposta que me fez rir:
- Eu quero botar a mão na massa!

domingo, 2 de outubro de 2016

(off) Capoeira

Ulisses, como toda criança em fase inicial do aprendizado, provoca algumas surpresas divertidas na gente, seus familiares. Uma prova disso ele deu na sexta-feira passada, diante de uma perplexa Tia Sal. Quando cheguei em casa, de volta da clínica onde fiz um certo exame, minha filha me contou que meu neto mais novo posicionou-se semi-agachado em frente a ela, com as mãozinhas apoiadas nos joelhos. Sal estranhou e perguntou se ele queria fazer o "número dois". O menino riu e sua "babá" insistiu:
- Quer fazer cocô ou vai jogar capoeira - e imitou o toque característico do berimbau.
Ao ouvir o som, Ulisses abriu os bracinhos e começou a gingar como os aficionados da arte que imortalizou Mestre Bimba, para espanto de Sal.
Mais tarde, comentando o fato com a Mamãe Nanda, esta nos informou que no dia anterior ela e Gabriel haviam levado o garoto ao forte de Santo Antonio Além do Carmo, onde alguns capoeiristas costumam fazer exibição...

(off) Dias de princesa?



Nesta semana, Laurinha experimentou mais uma decepção em sua curta existência entre nós, certamente por conta da interpretação muito particular das leituras que tem feito dos livros que lhe presenteamos habitualmente. Possivelmente o que gerou a desilusão de minha neta foi o fato de Mamãe Sal ter elaborado um novo calendário de tarefas para ocupar parte do tempo de seus filhos, Pedro e Laura, o que certamente não foi bem recebido pela menina, que argumentou sua condição de "princesa". Naturalmente, Sal contestou essa posição de sua filha e foi com esse espírito que os três chegaram numa dessas manhãs aqui em casa. Logicamente, fizemos, Vovó Bia e eu, coro às ponderações maternas e explicamos a Laura que ela não era de fato uma princesa, mas uma criança como outra qualquer da vizinhança. Mas minha neta, ainda manifestando sua proverbial rebeldia, bradou sua indignação:
- Quer dizer que os livros que a Vovó me deu não servem pra nada?

(off) "Acontece que eu sou baiano..."


Às vezes eu me assusto com o quanto Pedrinho é desligado, ao ponto de não atinar com as situações mais básicas da vida, naquilo que diz respeito a cada indivíduo em seu "aqui e agora". Ele simplesmente não presta atenção ou não se interessa a essas questiúnculas tão importantes do dia a dia. Para se ter uma ideia, fazendo o dever de casa, num desses dias, meu neto embatucou na questão sobre qual é o estado onde ele mora. Perguntando a este Avô, fiz questão de, pedagógica e socraticamente, inquiri-lo acerca de sua condição, oferecendo algumas dicas que, eu pensava - poderiam fazer com que raciocinasse a partir deste diálogo:
- Onde você mora, Pedro?
- Em Salvador.
- E Salvador é a capital de qual estado?
Ele foi franco:
- Não sei.
Voltei à carga:
- Por qual time você torce?
- Bahia!
- E o Bahia representa qual estado?
- Não sei.
Tentei facilitar a questão, mas só compliquei o entendimento do menino:
- O Bahia é de São Paulo ou de Pernambuco?
- Acho que é de Pernambuco...
Como não desse certo meu estratagema, voltei ao básico:
- Onde você nasceu, Pedro?
Essa ele sabia:
- Em Salvador.
- E quem nasce em Salvador é o quê?
Os olhinhos dele brilharam:
- Baiano!
- E onde vivem os baianos?
Essa última pergunta, agora reconheço, não foi tão bem elaborada assim, porque os baianos não vivem todos aqui e por isso meu neto ficou na estaca zero:
- Não sei...
Mas Laurinha, muito da espevitada, intrometeu-se:
- Eu sei, posso ajudar?

(off) Inglês para baiano entender

Dentre as várias matérias oferecidas pela escola neste segundo ano do ensino fundamental, Pedrinho curte muito as aulas de inglês, procurando aperfeiçoar-se na pronúncia das palavras no idioma da rainha Elizabeth. De vez em quando, o Tio Caio se encarrega de sabatinar meu neto nesse quesito, quando Pedro não se faz de rogado e apresenta seus conhecimentos. Mas ontem eu ri muito com ele quando o menino, ao passarmos de carro pela pista em frente do Parque da Cidade, ouvi-o comentar assim:
- Park of city. The better "lugar" (e ele pronunciou "lúgar") of the world!

Adorei.