sábado, 27 de novembro de 2021

Nona arte

 História em quadrinhos construída por Pedro Lucas Muniz Silva, meu neto mais velho.


Novo sorriso


Ainda não fizemos fotos, mas Pedrinho, nosso neto mais velho, agora usa aparelho nos dentes.
É assim, com um sorriso diferente, que ele inicia a contagem e as comemorações por seu 13.º aniversário.
É na adolescência que experimentamos as mudanças mais significativas da vida, aquelas que nos farão crescer à delicada posição dos adultos.
É inevitável, mas ao chegar nesta fase, o que pensamos mesmo é que teria sido melhor ficar por lá, entre os 13 e 20 anos, por uns 20 anos, pelo menos...
Mas Pedro não quer saber disso, que por enquanto o que realmente importa é não pensar na passagem do tempo, é deixá-lo fluir e, bem mais, deixar que os adultos contemplem os efeitos dessa passagem.

Pode ser uma imagem de criança e área interna



Também quero



Ontem encontrei duas bonecas do livro de poemas que idealizei desde antes do nascimento de meu primeiro neto, Pedro, desejando distribuí-lo como lembrança dessa efeméride.
Mostrei-as a Bia e ela, como avó coruja, encheu-se de encantamento e decidiu presentear Pedrinho com uma delas, aproveitando que o menino esteve aqui para trazer e levar encomendas para sua mãe.
Depois, minha mulher comentou que Laurinha não ficara nada feliz com o mimo feito ao irmão.
Pois bem, na manhã de hoje, indo à casa deles para levar a vitamina, minha neta perguntou-me se ela também tinha um livro similar ao de Pedro. Disse-lhe que não, explicando que ela havia nascido depois. Ela deu um muxoxo e lamentou, tentando se consolar:
- Ah! Mas meu ano é maior do que o dele!

Adolescente



Pedrinho completa hoje, dia 10 de setembro de 2020, seu 12.° aniversário e está perto de encerrar seu segundo ciclo de sete anos, disposto a começar com todo afinco sua adolescência. Como se sabe, cada indivíduo vive etapas de amadurecimento biológico de sete anos até tornar-se adulto, lá pelos 21, quando se espera que esteja maduro também psicologicamente, manifestando principalmente responsabilidade perante a própria vida.
Os espíritas sabemos que no primeiro ciclo o espírito começa a viver sua encarnação propriamente, consolidando no segundo, aos 14 anos de idade, seu processo de reencarnação no planeta, para mais uma experiência marcada por fortes provações.
Pedrinho sabe que contará conosco, seus familiares e amigos, em tudo que seja necessário para o sucesso de seus empreendimentos na carne. Quanto a nós, que nos desdobraremos para colaborar com os esforços dele, sabemos que as alegrias desse convívio serão sempre maiores que as compreensíveis e talvez necessárias turbulências decorrentes da vida de relação, de modo que desde agora confessamos a felicidade de tê-lo de novo conosco, porquanto já estivemos juntos num passado que não sabemos precisar...
- Deus o abençoe, Peu, nosso Pedrinho, o Pupuzinho de Laurinha.

Hora da citação



Pedro e Laura ficaram conosco ontem à noite e por essa razão participaram do culto do Evangelho que agora realizamos, Bia e eu, diariamente. Nessas ocasiões, eles sempre - ou nós sugerimos - fazem a leitura de um dos livros utilizados nessa tarefa.
Como se sabe, as citações bíblicas trazem o nome do mensageiro e a indicação do capítulo e do versículo, estes separados com dois pontos.
Pois bem! Acontece que meus netos ainda não aprenderam a ler as horas nos relógios analógicos, (mal) acostumados com o formato facilitador do cronômetro dos celulares.
Assim é que, após ler a epígrafe da lição que iria abordar, Pedrinho citou o nome do evangelista Lucas e, em vez de referir-se aos capítulo e versículo do texto, falou assim:
- Lucas, três horas e 23 minutos!
Como o momento era solene, segurei meu riso.

Sextou?


Fui levar os copos com vitamina para Pedro e Laura na casa deles, driblando a chuva. Cumprimentei minha filha e antes que me retirasse Laurinha assomou à sala e falou, depois que a beijei:
- Estou esperando mamãe me acordar para o "sextou"!
Não esperei a necessária explicação para o que deveria ser um programa assaz interessante e escapuli dali, de novo driblando a chuva...

Diversão



De uma conversa "zoo-ilógica" com Laurinha saiu esta versão de famosa música de Vinicius de Moraes e Tom Jobim:

"É melhor ser a lebre que ser tigre
andorinha é a melhor anta que existe
é assim como o pai do gaviãããão!...
mas pra fazer uma pomba com gazela
é preciso um bocado de tigresa
é preciso um bocado de tigresa
senão não se faz uma pomba, não..."

Cabra

Laurinha meteu na cabeça que quer uma cabra como animal de estimação. "E que nome você daria a ela?", pergunto, para sorrir com a resposta: "Ana Maria!" Pois é, teríamos uma Ana Maria Cabra, que Laura julga semelhante àquela Braga da TV...

Humor


Decididamente, a veia humorística caracteriza nossa família. Esta tarde, Laurinha resolveu me interrogar:
- Vovô, você sabe o nome completo do lobo mau?
Arrisco um palpite:
- Lobo Mau da Silva?
Nada disso. Laura me corrige:
- É Lobo Maurício; Mau é apelido.
Eu ri com ela.

Elogios




Laurinha, minha neta, está se acostumando a colocar palavras gentis na boca. Por várias vezes já a observei elogiando pessoas que ela não conhece, como fez hoje, ao dirigir-se à funcionária de uma sorveteria daqui do bairro:
- Moça, seu cabelo é lindo!
A moça, dona de uma bem trançada cabeleira, ficou toda fusquinha.

Política



No intervalo das aulas virtuais de minha neta, Laurinha, os coleguinhas passam a conversar online sobre os assuntos que os preocupam ou interessam.
Ouvindo os discursos, eu me divirto silenciosamente ou inquiro meu amorzinho sobre o que ela acha dessas coisas de menino e ela me diz que, enquanto uma parte da turma discute, a outra trata de postar impropérios.
Mas eis o que chamou minha atenção: primeiro, um dos meninos começou a falar de jogos de computador e seus custos, o que descambou para questões relacionadas às desigualdades sociais e logo um outro comentou sobre a situação política do país, provocando minha gargalhada quando emitiu sua opinião:
- É um presidente pior do que o outro. Foi Lula, Dilma e Bolsonaro. Se vier um pior que Bolsonaro, eu não sei o que vou fazer!
O indignado tem pouco mais de dez anos de idade...

Ulissianas



Numa das últimas vezes em que fiquei sozinho cuidando de Ulisses, deitei-me no sofá, enquanto o menino prestava atenção num programa de TV, e, cansado, adormeci. Em meio à madorna, ouvi uma voz infantil - dele, claro! - a me indagar:
- Vovô, qual é o PIN?
Acordei e ralhei com ele, pois o havia proibido de mexer em meu notebook, porque ele, futucador como quase todas as crianças dessa faixa etária, não se contenta em apenas assistir vídeos no Youtube ou desenhar no programa próprio para isso.
E o PIN, que vem a ser a senha que desbloqueia o aparelho, é a data do aniversário da mãe dele - e Ulisses nunca se lembra disso!

***

Nesse mesmo dia, antes que eu adormecesse, meu neto caçula (por enquanto?) deu uma pausa no programa de TV que assistia para me fazer um aviso:
- Vovô, se você ouvir a campainha, olhe se é uma velha num carro vermelho da Ford...
Ele se referia à avó paterna, que naquela tarde vinha buscá-lo para uma temporada em Stela Maris. Mas interrompi o raciocínio do menino para questioná-lo:
- Sua avó é velha?
Então Ulisses, com a sabedoria de quem se prepara para completar, em junho próximo, seu sétimo aniversário, conserta sua frase:
- Uma senhora de uns sessenta anos...