domingo, 5 de novembro de 2017

(off) Meu cordel

    
Laurinha não me disse nada, foi Mamãe Sal que alardeou que a menina tinha um dever de casa especial para fazer e para tanto necessitava de minha ajuda. A tarefa imposta pela zelosa professora de Laura era apresentar, cada aluno de sua turma, um livreto de cordel explorando um assunto específico. A minha neta coube o tema "os violeiros", sem mote nem nada. Assim, na tarde deste domingo, logo após tomar sua vitamina, Laurinha vem para perto de mim solicitar a ajuda - e eis-me recordando meus imaginários tempos de repentista pouco afeito aos alexandrinos:

Os violeiros

No sertão da minha terra
Mora um povo altaneiro
Que vive de bem com a vida
E não se importa com dinheiro
É uma gente trabalhadora
E eu vou falar agora
Dos amigos violeiros

Violeiros são cantadores
Exímios na rima e no verso
Cantam sempre de improviso
Como se rezassem o terço
Dedilhando sua viola
Os dedos parecem de mola
E assim cantam o dia inteiro

Vou falar de Zeca e Zequinha
Dois violeiros daqui
Nesta minha terra inteira
Como esses dois nunca vi
Cantam e tocam como ninguém
E se resolvem tão bem
Que superam o bem-te-vi

Não existe violeiro
Melhor que Zeca e Zequinha
Pra cantar pena de galo
Ou pescoço de galinha
Eles cantam dia e noite
Fazem versos de açoite
Tal o padre em ladainha

Pra nós, aqui no sertão
Fazer verso e tocar viola
É profissão prazenteira
Bem melhor que jogar bola
Violeiro tem seu lugar
E vale mais que Neymar
Com seus milhares de dólar.

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